Você Empregado

Março – mês das mulheres: Quando a entrevista te testa mais do que avalia 

Karine Camuci

Março é o mês em que falamos muito sobre a mulher — especialmente no mercado de trabalho. Mas o que as entrevistas de emprego revelam — sobre o mercado e sobre nós mesmas — ainda são um capítulo à parte.

Na semana passada, fiz uma simulação de entrevista com uma cliente que havia ocupado uma posição executiva até pouco tempo atrás. Ela deixou o cargo por uma razão absolutamente legítima: os filhos pequenos, a carga de trabalho intensa e a sensação de que seus valores estavam sendo atropelados por uma rotina que não fazia mais sentido. Mas, diante de um processo seletivo, ela travava. Não sabia como responder a essa questão. Sentia vergonha de justificar sua saída pelo fator “maternidade”.

Meu conselho para ela foi direto: diga a verdade. Fale com serenidade. Dê contexto. Não esconda seus valores. Ser mãe não é um problema. E, se isso for visto como um empecilho pela empresa, melhor descobrir antes — do que se frustrar depois. Toda entrevista também é um processo de escolha da sua parte.

Ela saiu da sessão mais segura. Com outra postura. Porque entendeu que o que estava em jogo não era apenas uma vaga — era sua coerência interna, seu respeito próprio.

Essa semana, em outra entrevista, uma profissional me disse com orgulho que seu diferencial era o cuidado com os detalhes. Que gosta de fazer entregas bem feitas, com profundidade. Mas, logo em seguida, ela se retraiu. Pediu desculpas. Disse: “Ai, não quero parecer arrogante.” Quantas vezes já ouvimos essa frase?

É muito comum ver mulheres podando suas próprias qualidades com medo de parecerem “demais”. Isso ainda acontece — e muito. Mulheres pedindo licença para brilhar. Suavizando suas competências para caber em ambientes que talvez nem estejam prontos para recebê-las como são.

Não deveria ser assim. Competência não é arrogância. Confiança não é prepotência. Ter orgulho do que se construiu é um direito — e, mais do que isso, é uma necessidade para ocupar espaços de liderança com consistência.

Neste mês, convido você — mulher que busca recolocação, crescimento ou visibilidade — a se escutar com mais generosidade. A se preparar com estratégia, mas também com verdade. A valorizar sua trajetória sem medo, sem culpa, sem desculpas.

A entrevista é o momento de mostrar quem você é — e não apenas quem você acha que esperam ver. Que você possa entrar em qualquer sala com sua história nas mãos e a certeza de que não precisa se encaixar em moldes para conquistar seu lugar.

Karine Camuci é consultora de carreiras e fundadora da Você Empregado, consultoria especializada em recolocação profissional e desenvolvimento de carreiras.

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