Outro dia, uma cliente me contou que mantém aulas particulares de inglês, mesmo já sendo fluente. Ela lidera uma multinacional, tem presença sólida em reuniões internacionais com a alta direção global, mas ainda assim faz questão de seguir estudando. Não por obrigação, mas para aprimoramento.
Essa história ficou ressoando em mim. Porque, em paralelo, também atendo profissionais que trilharam carreiras brilhantes dentro de empresas, cresceram por mérito, foram promovidos, mas não investiram na própria formação. E aí, quando há uma ruptura nessa relação, seja porque a empresa fechou, quando há um corte, ou simplesmente quando decidem sair… se deparam com uma parede invisível no mercado.
Eles têm anos de experiência, resultados concretos, liderança comprovada. Mas não têm um diploma. Ou pararam no tempo. E o mercado, por mais que valorize a prática, ainda filtra pelo que está escrito no currículo.
A experiência conta. Mas não resolve tudo. É muito comum ouvir a frase: “eu sei fazer, não é possível que serei barrado porque não tenho um diploma”. E entendo essa frustração. Muitos desses profissionais são excelentes no que fazem, conhecem a operação como ninguém, têm visão de negócio e jogo de cintura para lidar com diversos desafios. Mas o problema não é apenas o que eles sabem, é o que os recrutadores, gestores ou sistemas de triagem conseguem ver.
Currículos hoje passam por filtros automáticos. Plataformas de vagas usam palavras-chave. Empresas têm políticas internas que exigem determinados níveis de escolaridade para cargos específicos, e não é pessoal. É processo.
Já acompanhei processos seletivos em que candidatos incríveis foram desclassificados porque não tinham graduação. E outros, igualmente experientes, passaram à frente porque estavam fazendo uma pós, uma certificação, um MBA. Não por saberem mais. Mas por mostrarem que seguem em movimento.
O estudo como escolha estratégica (e não obrigação)
Investir em educação não é um prêmio por desempenho. É uma escolha estratégica. É sobre manter a mente ativa, expandir repertório, desenvolver linguagem de gestão, incorporar novos modelos mentais.
E isso não precisa ser, necessariamente, uma nova faculdade. Pode ser uma especialização, um certificado online, uma mentoria, uma imersão, o que importa é não estacionar. É manter o músculo do aprendizado em movimento.
Porque, vamos ser honestos: o mercado muda mais rápido do que a gente consegue acompanhar. Ferramentas novas, novas exigências de compliance, mudanças no comportamento do consumidor, inteligência artificial, ESG, transformação digital… Quem para de aprender, começa a falar uma língua que o mercado não entende mais.
Subir sem estudar é possível. Mas tem prazo de validade.
O maior risco de crescer na carreira sem acompanhar esse crescimento com formação é se tornar refém da própria trajetória. Enquanto está tudo bem, o cenário parece estável. Mas basta uma virada, uma fusão, uma demissão, uma mudança de liderança, para a falta de qualificação formal virar um grande obstáculo.
E é nesse momento que muitos se sentem invisíveis. Enquanto isso, quem foi plantando sementes, mesmo devagar, mesmo com cursos, mesmo estudando aos poucos, colhe oportunidades. Porque tem argumento. Tem atualização. Tem algo novo para oferecer.
A pergunta que fica: Se hoje você perdesse seu cargo, o que o seu currículo contaria sobre você?
Você confiaria apenas nos seus anos de empresa? Ou teria também formação, atualizações, aprendizados recentes que o colocariam em pé de igualdade com outros profissionais no mercado?
A experiência é, sim, um ativo importantíssimo. Mas ela precisa estar visível. Precisa ser traduzida. E, muitas vezes, precisa ser complementada por uma formação que a valide perante quem ainda não te conhece.
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