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Experiência conta, mas não basta: como seguir competitivo aos 50 + e além! 

Karine Camuci

Você tem uma trajetória sólida. Já participou de momentos importantes nas empresas por onde passou. Viveu diferentes contextos, enfrentou mudanças de gestão, implementou processos, treinou pessoas, entregou resultado mesmo quando o cenário era desafiador. Mas, apesar de tudo isso, talvez tenha começado a se questionar: será que minha experiência ainda é suficiente?

O mundo do trabalho está mudando em uma velocidade diferente de outros tempos. As transformações digitais, o surgimento de novas ferramentas e uma nova geração com ritmo mais acelerado têm exigido de todos nós um novo olhar. Principalmente de quem já está há mais tempo no mercado.

E é sobre esse olhar que quero falar com você neste artigo. Não para desmotivar, mas para provocar. Porque, sim, a experiência tem valor. Mas ela precisa estar em movimento.

Você está atualizado no que é essencial?

Não estou falando sobre dominar inteligência artificial ou codificar soluções avançadas. A pergunta aqui é: você tem autonomia para lidar com as ferramentas básicas do seu dia a dia?

Organiza bem sua agenda digital? Consegue preparar uma apresentação clara e interessante? Sabe resolver pequenos problemas com documentos, planilhas, plataformas simples como Teams, Zoom ou Drive? Usa com desenvoltura o e-mail profissional, sabe compartilhar arquivos, revisar dados, preparar um resumo executivo?

O que tenho percebido em algumas conversas e processos de consultoria é que existem profissionais maduros que acumulam grande vivência técnica e de gestão, mas demonstram dificuldade com o básico. E isso se torna um ruído. Um detalhe que, com o tempo, mina a autonomia. Dependem de colegas para tarefas simples e acabam transmitindo a ideia de que estão desatualizados, mesmo que tecnicamente sejam excelentes.

Manter-se competitivo começa por garantir o domínio daquilo que é simples e rotineiro. O básico bem feito abre espaço para que a sua experiência possa ser valorizada de verdade.

Outro aspecto que pesa na avaliação de profissionais com mais tempo de mercado é a disposição física e emocional. Em ambientes industriais, operacionais e de contato direto com o chão de fábrica, a presença é fundamental. Estar presente no Gemba, participar das rotinas com energia, circular, ouvir o time, tomar decisões com agilidade, tudo isso exige vitalidade.

Esse ponto não tem relação direta com idade. Tem mais a ver com estilo de vida, autocuidado e ritmo. Cuidar da saúde, do sono, da alimentação, manter o corpo ativo e a mente clara. Profissionais que se preservam conseguem acompanhar o ritmo da operação sem perder a autoridade. A boa reputação técnica pode ser reforçada, ou comprometida, por uma simples pergunta que os líderes costumam se fazer sem perceber: “Essa pessoa tem disposição para acompanhar o time, para sustentar a rotina, para representar a área com presença?”. Se você quer continuar sendo referência, precisa olhar também para o seu ritmo.

As suas emoções refletem na forma como você reage às mudanças. Você lida bem com opiniões divergentes? Consegue receber feedback com maturidade? Consegue manter um diálogo construtivo com pessoas que pensam diferente de você?

Quem já viveu muita coisa tende a desenvolver filtros, padrões e convicções fortes. E tudo isso pode ser muito positivo, desde que não bloqueie o aprendizado. Se posicionar com clareza, ouvir mais, acolher novos pontos de vista. Estar disposto a rever o que antes era inquestionável. Isso é maturidade emocional aplicada ao trabalho. E sim, isso impacta diretamente sua competitividade. É comum encontrar pessoas que, com base em sua história, esperam reconhecimento automático. Mas o mercado não funciona mais assim.

Hoje, espera-se que o profissional experiente saiba traduzir sua bagagem em soluções atuais. Que saiba o que está acontecendo ao redor, que entenda as dores do negócio hoje. Que não se apegue ao que funcionava antes, mas esteja atento ao que o cenário de agora exige.

Sua experiência é o pano de fundo, mas a entrega é atual. O que você faz hoje? Como você atua nos desafios de agora? Em que você se desenvolveu nos últimos dois anos? Que tipo de contribuição você está construindo nesse novo contexto? Essas perguntas são chave.

Visibilidade e comunicação: dois pilares que não podem ser ignorados. A competência não basta se ninguém sabe. Isso vale para quem está começando, mas vale ainda mais para quem tem longa trajetória.

Estar presente no LinkedIn, manter um perfil atualizado, compartilhar aprendizados e reflexões, se manter visível no mercado. Participar de fóruns da sua área, conversar com profissionais de outras empresas, trocar experiências. Tudo isso contribui para sua relevância profissional.

E mais: sua comunicação é fundamental. Como você conta sua história? Como explica o que entrega? Você consegue mostrar resultado de forma objetiva, com clareza e sem se perder em muitos detalhes? Uma comunicação bem estruturada é o que transforma vivência em autoridade.

A curiosidade é o maior diferencial de quem segue competitivo por muitos anos. O interesse genuíno por aprender. A capacidade de observar o novo com olhos atentos. A disposição para testar, errar, melhorar.

Profissionais maduros que mantêm a curiosidade acesa têm mais facilidade de se adaptar, inovar e ensinar. Isso vale para qualquer área. Seja em engenharia, compras, RH, supply chain, operações, qualidade ou liderança. O profissional que se pergunta “como posso fazer melhor?” é sempre relevante.

O que fazer, na prática, para continuar competitivo? Talvez você esteja lendo este artigo pensando “por onde eu começo?”.

Aqui vão algumas ações simples e diretas para trazer mais intencionalidade à sua carreira:

  1. Escolha uma ferramenta simples que você evita e aprenda a usar melhor. Pode ser o Excel, o ChatGPT, o Trello, o Teams.
  2. Atualize seu perfil no LinkedIn. Não apenas com o cargo, mas com o que você entrega. Traga resultados, competências e temas que domina.
  3. Busque uma conversa com alguém mais jovem da sua equipe ou rede. Pergunte sobre o que eles estão estudando, quais ferramentas usam, como veem o trabalho. Essa troca abre muita coisa.
  4. Revise seus últimos projetos. O que você entregou? O que aprendeu? O que faria diferente? Tenha isso pronto para uma entrevista, uma conversa com a liderança, ou para você mesmo.
  5. Cuide da sua energia. Reforce hábitos saudáveis. Marque exames se estiver adiando.

    Faça um check-up. Pequenos ajustes já fazem grande diferença no seu desempenho.

O mercado precisa de pessoas com visão, com repertório, com base sólida. Mas precisa também de gente com disposição, curiosidade e vontade de continuar crescendo.

A idade não é um problema. A estagnação, sim. Quem continua aprendendo, atualizando e se posicionando com consciência constrói uma carreira longa e sustentável. Você não precisa provar nada pra ninguém, mas precisa continuar se desenvolvendo por você. A carreira não termina depois dos 50 ou dos 60. Ela só precisa de mais intenção.

Carreira não se terceiriza. Se você quer seguir relevante, é você quem vai ter que cuidar disso, dando um passo de cada vez.

Karine Camuci é consultora de carreiras e fundadora da Você Empregado, consultoria especializada em recolocação profissional e desenvolvimento de carreiras.

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